sexta-feira, 15 de julho de 2022

 Belo Horizonte, 29 de Janeiro de 2000.

Dom Célio, caro amigo e companheiro cristão e franciscano, muita paz, luz e amor.

Agradeço a sua atenção para comigo, pois recebi a sua resposta em 04/01/2000.

Dom Célio, em sua carta de 22/09/1999. Você escreveu: “Com relação ao conteúdo das cartas que você mandou para o frei Estanislau, frei Patrício e frei Basílio, de fato daria mesmo para falarmos muito. Mas em todas eu percebo seu espírito perscrutando as Escrituras”.

Comprei os dois dicionários que você me indicou em sua primeira carta e já estou utilizando-os para o aprimoramento dos meus conhecimentos.

Você acertou em parte, pois o que realmente procuro é deixar tudo o mais claro possível, até para aqueles que ainda possuem dificuldades para compreender a si mesmos e a Deus, que é a plenitude da perfeição em tudo. Quero deixar tudo o mais claro e conciso possível para que outros não venham interpretar o que quis dizer, pois assim complicarão tudo, já que dificilmente compreenderão tudo. Aprendi isso com as experiências e o que aconteceu com o nosso mestre Jesus, pois muito daquilo que se dizem que Jesus disse não é realmente cristão.

Realmente, após o dia 07/01/1980, como se fosse efeito de um toque de mágica, passei a ter capacidade para entender bem profunda e claramente sobre tudo. Mas não foi um toque de mágica e sim foi a presença de Deus, que se sintonizou comigo. Esta sintonia com Deus se tornou consciente e clara para mim no dia 12/04/1984. Só escrevi este assunto para o frei Basílio, em 31/03/1995, depois dele ter escrito para mim, em 04/08/1993, assim: “Não vou argumentar nada com você para não profanar o grande segredo, a grande revelação”.

O meu principal objetivo com as minhas cartas teológicas, bíblicas e filosóficas é divulgar e explicar a VERDADE, que encontrei. Fico muito satisfeito e contente mesmo, quando alguém não aceita as minhas ideias ou teses, pois assim posso defendê-las com mais clareza e concisão, como também descobrir se houve algo ainda meio nebuloso e em que não ficou bem clara e lúcida a explicação. Estes foram os exemplos do frei Estanislau (4 cartas), frei Basílio (11 cartas) e padre João Batista Libânio (4 cartas).

O padre João BL me escreveu, respondendo à minha carta de 13/09/92, citando Santo Tomás: “O que afirmamos de Deus é sempre mais equivocado que correto, pois sabemos mais o que Deus não é do que Ele é”. Realmente isso é uma grande verdade. Nós temos que ter coragem para pensar no já pensado e só assim encontraremos a VERDADE ABSOLUTA. Temos que eliminar os princípios bitoladores da nossa liberdade de pensar e buscar a compreensão e explicação plena de tudo.

Quando pedi a opinião do padre e teólogo João B. L. sobre a tese “Deus Não Perdoa Nunca” e sua correlação com a prece de Jesus no Getsêmani, o que queria era mesmo me aprofundar no assunto, mas ele apenas desejou-me “muita dedicação à Bíblia”. Queria ver como ele se sairia do labirinto que nos foi ensinado, pois a redenção do gênero humano não está no sacrifício da morte e morte de cruz, mas na experiência e vida com plenitude de amor, e nos ensinamentos deixados por Jesus.

Sobre a minha segunda carta, o padre e teólogo João BL apenas escreveu: “A sua carta revela grande manuseio e conhecimento da Escritura”, e voltou a referir-se ao assunto da carta anterior. As outras duas ainda estão sem respostas, mas as minhas ideias foram apresentadas e divulgadas.

Nesta carta quero falar sobre a busca do conhecimento para nos autoconhecer, compreender e explicar a VERDADE ABSOLUTA, que é Deus-Pai-Mãe, o Espírito Incriado, que foi o primeiro Criador.

Considero-me como um gnóstico, dualista e monoteísta. Consegui correlacionar o estudo teológico com o matemático. Com uma profunda visão e racionalidade matemática, fica muito fácil expor conceitos e ideias sobre o que é verdade relativa e o que é a Verdade Absoluta.

Como gnóstico tenho como meta a busca da perfeição, pois o próprio mestre Jesus já nos ensinou: “Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Pela perfeição alcançamos a liberdade ou a condição de sermos livres: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). Com liberdade e perfeição, conquistamos a pureza e aí estamos aptos para nos encontrar com Deus: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8).

Como dualista, sou adepto do dualismo; isto é: defendo a existência de duas espécies de realidade, como espírito e matéria, planos espiritual e material, universos paralelos, dia e noite, sempre ideias opostas, mas complementares e não eliminatórias. A existência de Deus-Pai-Mãe, o primeiro Criador e nós, os filhos, filhas de Deus, que fomos criados. Então Deus existe e eu existo, você existe, ele existe e eles existem; só que eu não sou parte ou partícula de Deus, ou mesmo uma centelha divina, mas filho criado por Deus.

Sou contra a crença de dois princípios eternamente conflitantes; como também nego o dualismo modificado, que sustenta que Deus é ambivalente, isto é: ao mesmo tempo benévolo e malévolo. Estas duas ideias são os sofismas do dualismo, defendidas por pseudos sábios.

Enquanto o ser humano estiver vivo, sou adepto do unitarismo, defendido pela Teologia da Libertação, pois somos um todo inseparável: carne, mente, alma ou espírito. Mas com a morte física do corpo, existe a separação do espírito e aqui se prova a existência do dualismo, que é a corrente filosófica contrária ao monismo.

Unindo as minhas ideias gnósticas e dualistas, sou um evolucionista, mas tento aprimorar as ideias evolucionistas de Darwin, que defendeu a seguinte fórmula: “Sobrevive o mais apto”, e as ideias evolutivas de Teilhard de Chardin, um grande teólogo defensor da evolução, que substituiu a fórmula de Darwin para: “Sobrevive o mais complexo”. Defendo a seguinte fórmula: “Sobrevive o mais sábio e o mais forte”. Digo assim, porque o sábio fraco é sugado e destruído por um outro, que pode ser menos sábio e mais forte; por outro lado o “mais sábio e mais forte”, mesmo não destruindo ou eliminando ninguém, sobrevive pela sua sabedoria e pelo respeito que impõe a todos os outros, já que ninguém tentará destruí-lo.

As minhas ideias evolutivas e evolucionistas continuam sendo dualistas, pois não haverá a unidade perfeita com Deus, como defende o teólogo Teilhard de Chardin, mas existirão muitos perfeitos... (Dualismo na evolução, pois se existe o segundo, haverá o terceiro, o quarto, o quinto e assim indefinidamente, como está escrito em Mt 5,48). Pelas ideias evolutivas de Teilhard de Chardin, os espíritos ou almas irão submergir ou afogar-se em Deus; isto é: se acabarão, pois havendo a união plena entre um superior com um inferior, este desaparecerá, já que perderá a sua individualidade, como os pingos de chuva ou os rios de água doce no oceano de água salgada.

Como monoteísta, sou também teísta, antropomorfista, e nego o panteísmo, o politeísmo e o monismo. Acredito e sei que Deus pode manifestar-se a qualquer pessoa ou ser criado da forma que Ele desejar e for necessário para intervir na história e evolução da humanidade ou da criação.

Veja os exemplos em Gênesis 3,8; 18,1; 28,10 a 15; 37,5 a 11; 40,5 a 19; 41,1 a 32; Êxodo 3; I Samuel 3; 16,1 a 13; II Samuel 12,1 a 14; I Reis 19,9 a 18; Isaías 6,1 a 13; Jeremias 1,4 a 19; Daniel 5,5 e 25; 14,33 a 39; Mateus 3,17; 17,1 a 8; Atos 2,1 a 12; 9,3 a 19; 12,6 a 11.

Aceito que Deus pode estar em qualquer lugar, mas Ele não está em todo lugar, então o conceito ou ideia da onipresença para Deus é um pouco sofista, mas com isso não diminuo ou restrinjo a onisciência e onipotência de Deus. Se Deus estivesse presente em todo lugar ou em todo ser criado, Ele estaria também naqueles que roubam, matam, violentam, estupram, caluniam, dão falso testemunho e aí Deus estaria concordando com tudo ou seria completamente nula ali a sua presença.

Como não consigo imaginar nenhuma nulidade para com Deus, então Ele não está presente nestes casos. Também, se Deus estivesse presente em todo lugar e ou em todos, não poderia haver discordância e até “guerras santas” em nome de Deus, isto seria uma grande contradição e muito irracional mesmo.

Como Deus respeita plenamente a liberdade de todos, Ele só se aproxima, quando o profeta ou o discípulo estiver preparado, e abrir as portas do coração. Neste caso se cumprirá o que está escrito: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30), e “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9b). Aqui existe ainda um grande e belo segredo, que ainda não posso revelar.

O panteísmo é um sofisma filosófico sobre Deus, já que defende que tudo é Deus. O monismo é uma outra forma de apresentar o erro do panteísmo, já que defende que a criação é Deus.

Nego também o politeísmo, que defende a existência de muitos deuses, mas existem muitos espíritos, e, em muitos casos, estes assumem a posição ou o lugar de Deus, por isso existem muita confusão e um caos mesmo de ideias e conceitos sobre Deus. Deus-Pai-Mãe, o primeiro Criador, não guardou só para Ele o segredo de ser criador, então aceito que qualquer ser criado, tem que evoluir, e poderá ser também um outro criador: o dualismo na criação. Cada um é o responsável por tudo aquilo que faz ou cria, e nós temos que ter capacidade para analisar, descobrir e entender se a criatura, com a qual nos estamos relacionando, veio de um criador bom ou não, ou mesmo se é Deus, uma criatura de Deus ou de um falso deus.

A grande confusão e o labirinto que surgiram para toda a humanidade é que cada ser humano criou para si uma imagem de Deus, e julga que esta sua imagem de Deus é o verdadeiro Deus, por isso temos vários conceitos e ideias sobre Deus, completamente errados. Veja e analise bem esta frase: “O Deus de muitos cristãos é anticristão”. Aqui se encontra a razão de muitos conceitos e ideias, que reduzem Deus a mediocridade de muitos: um Deus que se arrepende, um Deus que vinga, um Deus que tem ira, um Deus tirano e carrasco, um Deus que exigiu a morte do Filho para poder perdoar a humanidade condenada pela culpa de Adão e Eva, um Deus que julga e condena para a eternidade, um Deus que exige uma obediência cega, um Deus que causa medo e terror, um Deus responsável por muitos males e pragas. (Veja bem a carta que enviei para o Frei Patrício, que ainda continua sem resposta).

Em 24/08/1983, recebi a explicação do mistério da Santíssima Trindade, e vou expor aqui o que consegui escrever naquele dia, apesar da grande emoção sentida:

- “O Pai cria os seus filhos ignorantes. Tudo que o “Pai” criou, cria e criará é puro e santo. Pelas encarnações, que são experiências em corpos de carne, e pelo livre-arbítrio, eles, os filhos e filhas de Deus, evoluem, buscando a sabedoria e a perfeição.

A meta das criaturas materializadas ou vivendo na matéria, desde o reino mineral até aos homens, representando o “Deus-Filho”, é serem espíritos puros ou anjos.

Os espíritos desencarnados ou almas, libertas dos corpos de carne ou da matéria bruta, representam o “Deus-Espírito-Santo”.

Deus-Pai” é o Pai de todos os filhos e filhas encarnados, que vivem na matéria, e ou desencarnados, que estão livres da matéria bruta. Igual ao “Pai” ninguém poderá ser, pois o “Pai” não teve princípio e nem terá fim, mas nós fomos criados à sua imagem e semelhança.

No processo de evolução, que é a busca da sabedoria, os filhos e filhas de Deus passam por vidas sucessivas e estas podem ser sofredoras ou alegres, dependendo dos carmas a serem pagos: colhe-se aquilo que se semeia. Quando o processo de desenvolvimento estiver bem evoluído ou adiantado, não é mais necessária a encarnação em corpos de carne, e essa só ocorre em casos de missão e auxílio aos irmãos em evolução: “amor sublime para com todos, e fidelidade plena a Deus”.

O “Pai” dirige tudo, e só Ele sabe o que acontece com cada filho, mas Ele precisa da nossa aceitação e ação, para poder intervir na evolução da sua criação.

O juiz de tudo é: primeiro, o próprio filho, que saberá, se cumpriu bem ou não, a sua missão, pelo remorso ou pela paz interior; segundo, os outros, mas não podemos julgar nossos irmãos.

Os filhos, no plano espiritual, estabelecem as metas a serem cumpridas nas próximas vidas, ou aceitam as decisões e tarefas dos mais sábios, quando não podem ainda optar, pois são novos, ou possuem pesados carmas a serem pagos.”

Tem-se aqui a explicação do Mistério da Santíssima Trindade: “Um só Deus, em três pessoas distintas: Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito-Santo”. Então a ideia de Deus aqui se refere ao “Todo”, como está claro na exposição anterior. Deus-Pai, o Espírito Incriado, não é o “Todo”, e nem está no “Todo”, mas é parte deste “Todo”. O que chamo de Deus é apenas o Pai.

Em todas as correntes filosóficas sobre Deus existem verdades e sofismas. O mistério foi a saída ou fuga dos estudiosos, teólogos ou não, pois não queriam se humilhar dizendo que não sabiam como explicar fatos e acontecimentos ainda inexplicáveis por causa da condição evolutiva do próprio Planeta Terra ou do gênero humano.

Somando os meus conhecimentos teológicos, matemáticos e filosóficos, digo:

  1. Deus-Pai é comparado com a figura da reta. Todo matemático sabe que uma reta não tem início e nem fim. Deus não teve início e não terá fim. Uma reta é construída por uma sequência infinita de pontos na mesma linha e todas as retas são iguais. Por um mesmo ponto, pode passar um número indefinido de retas, com apenas um ponto em comum, e todas são realmente iguais, enchendo todo o espaço cósmico, que é também infinito.

  2. Nós, que fomos criados, somos comparados com a figura da semirreta. Todo matemático sabe que uma semirreta tem início, e não tem fim. Nós também tivemos início, e não teremos fim. Nós não somos todos iguais, pois fomos criados em momentos diferentes, e o criador nem é sempre o mesmo.

  3. O Mistério da Santíssima Trindade: Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito-Santo, três pessoas distintas, mas um só Deus. Deus aqui é comparado com o maior conjunto possível, cosmicamente falando. Cada espírito, cada ser vivo, cada célula e cada átomo são elementos deste “imenso conjunto cósmico”, que pode ser dividido em milhares de subconjuntos. Cada ponto é um elemento deste imenso conjunto, que é o infinito espaço cósmico, que continua sendo espaço livre, pois tudo aqui são só ideias e conceitos abstratos, dentro de conceitos racionais e lógicos. Deus-Pai, a quem realmente chamo de Deus, é um elemento deste conjunto também. Jesus já nos ensinou: “Mas vem a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade” (Jo 4,23 e 24).

  4. Dividindo o grande conjunto cósmico em três (3) subconjuntos, temos:

a) Deus-Pai-Mãe-Criador, o Espírito Incriado e primeiro Criador, é um conjunto de um só elemento, já que ninguém é igual ao Pai.

b) Deus-Espírito-Santo é o conjunto de todos os espíritos criados, que estão libertos dos corpos de carne. Então cada espírito livre da matéria bruta é um elemento deste conjunto (subconjunto), que é o “Espírito-Santo”.

c) Deus-Filho é o conjunto de tudo aquilo que existe no reino da matéria, pois a matéria também foi criada, desde o átomo até a um planeta, desde o microscópico vírus até ao ser humano, que é o rei da criação. Então cada ser vivo é um elemento deste conjunto (subconjunto), que é o “Deus-Filho”.

  1. Tudo na geometria, que é um ramo da matemática, inicia-se com o ponto. Ninguém explicou como surgiu o ponto. Uma esfera é um conjunto de pontos e o ponto que deu início a uma esfera é chamado de centro desta esfera. Cortando uma esfera ao meio temos a visão de um círculo. Toda linha que passa pelo centro do círculo e está contida no próprio círculo é chamada de diâmetro. A metade do diâmetro é o raio, que é um segmento de uma reta, que liga o centro da circunferência a circunferência. Partindo do centro da circunferência, e caminhando em sentidos opostos, temos dois (2) raios iguais e pertencentes ao mesmo segmento de uma reta, que é o diâmetro.

  1. A equação da reta, que é: “uma curva de raio infinito”, prova a existência da reta, pois este raio não é raio, mas uma semirreta, e com duas semirretas em sentidos opostos, temos uma única reta. Mas existem os pensadores sofistas, que só confundem aos menos sábios, dizendo que não existe reta, pois conforme a própria equação, que diz que a reta é uma curva, dizem que não existe reta, e daí vem a confusão. Mas Jesus já nos ensinou também que: “Então, se alguém vos disser: “Olha o Cristo aqui!” ou “ali”, não creiais. Pois hão de surgir falsos Cristos e falsos profetas, que apresentarão grandes sinais e prodígios, de modo a enganar, se possível fora, até mesmo os eleitos. Eis que eu vo-lo predisse” (Mt 24,23 a 25). Unindo todos os “raios infinitos” de um mesmo círculo, que não são raios, mas semirretas, temos novamente o grande conjunto cósmico, pois aqui tudo está incluído.

Temos como responsabilidade a missão de executar bem tudo aquilo que nos foi confiado por Deus, já que Deus confiou e confia em nós plenamente.

Um grande abraço do amigo, irmão e companheiro nesta nossa caminhada rumo à perfeição.

Rosário Américo de Resende.