terça-feira, 14 de julho de 2020

Terceira carta para o João Batista Libânio.


Amigos. Paz plena.
Eis cópia da terceira carta que escrevi para o JBL sobre o Evangelho de São João:

Belo Horizonte, 21 de Julho de 1993.
Padre João Batista Libânio, que paz e o amor de Deus-Pai-Mãe o envolvam e que a luz de Jesus possa guiá-lo pelo caminho que conduz à perfeição. Vamos pedir a Deus, que é a fonte suprema de sabedoria e vida, força e coragem para podermos “pensar no já pensado”, encontrando assim a verdade, que liberta, para termos vida e vida em plenitude.
Padre Libânio, nós temos em comum a missão de trabalharmos na construção do “Reino de Deus”, um reino de amor, caridade, sabedoria, humildade, servir e perfeição. Para cumprirmos bem esta missão temos que encontrar a verdadeira Verdade e divulgá-la com todas as nossas forças.
Hoje gosto de falar assim: “Apaga tudo o que aprendeste sobre a Bíblia Sagrada, mas não a jogue fora, guarde-a muito bem mesmo, pois a Bíblia Sagrada é uma fonte inesgotável de ensinamentos e sabedoria”. Você, Padre Libânio, poderá compreender melhor esta frase lendo e entendendo bem a minha 2ª carta. O que expus nela fiquei sabendo em 1984, só que não encontrava um bom amigo cristão para poder contar, dialogar livremente e aprofundar sobre a tese tratada.
Quero agradecer-lhe a sua resposta de 10/04/93 à minha carta de 01/01/93. Sobre a tese tratada tudo ficou em suspenso, o Senhor continuou referindo-se só à tese da 1ª carta, que é: “DEUS NÃO PERDOA NUNCA”. Quando o Senhor se refere ao “aspecto do coração de Deus, que sempre está disposto a acolher-nos sempre que nós nos tenhamos afastado dEle, tenhamos rejeitado-O”, isso encaixa direitinho em minha tese e mostra que Deus não se ofende. Já que Deus não se ofende Ele nada tem que perdoar. O perdão deve existir sim, mas entre aquele que se sentiu ofendido para com o causador da ofensa. O beneficiado é quem perdoa e não aquele que recebe o perdão para com as leis evolutivas.
Sou um fã do “Evangelho Joanino”, para mim “O Quarto Evangelho Bíblico” é uma obra ímpar da humanidade. Esta carta será escrita em torno do Evangelho Segundo São João. Todos os trechos citados são retirados da “Bíblia de Jerusalém”, edições Paulinas; como segue:
“Veio para o que era seu e os seus não o receberam” (Jo 1,11).
Jesus não foi recebido e nem compreendido pelos contemporâneos dele e ainda hoje, no apagar das luzes do século XX, podemos dizer que a mensagem de vida, amor e libertação de Jesus ainda não foi compreendida e nem vivida por quase toda a cristandade, pois “o Deus de muitíssimos cristãos não é cristão, mas é um Deus anticristão”.
- “Tenho ainda muito que vos dizer, mas não podeis agora suportar. Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena...” (Jo 16,12 e 13a). “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). “És mestre de Israel e ignoras essas coisas? Em verdade, em verdade, te digo: falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos” (Jo 3,10 e 11).
Por estas passagens fica muito claro que Jesus não nos ensinou tudo e que nós temos que ter muita força e coragem para “pensar no já pensado” para realmente encontrarmos a “verdadeira verdade”. Só quem encontra a verdade é que se vive plenamente e pode dar testemunho da própria verdade, pois só se pode doar aquilo que tem e só pode ensinar aquilo que sabe.
- “Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil, devo conduzi-las também; elas ouvirão a minha voz, então haverá um só rebanho, um só pastor” (Jo 10,16).
Vemos aqui muito claramente a necessidade da união de todos, das diversas religiões para que exista um só rebanho e um só pastor. Só quando todos viverem realmente como irmãos e com muito amor, poderemos ver e viver no “Reino de Deus”, como pedimos no Pai-Nosso: “... venha a nós o vosso Reino...” Nunca será possível a verdadeira união enquanto “uns disserem que os outros estão errados ou são hereges só porque pensam e acreditam de uma forma diferente da nossa”.
- “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10b). “O espírito é que vivifica, a carne para nada serve. As palavras que vos disse são espírito e vida (Jo 6,63). “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). “Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo” (Jo 9,5).
Para ter vida em plenitude não é admissível nenhum sofrimento, nenhuma fome, injustiça e prisão. Quem caminha na “luz” não pode ter nenhuma dúvida. Por que, mesmo após 2 milênios, existe tanta injustiça, fome, traições, infidelidade, explorações, tanto sofrimento, roubos, ódios e adultérios (infidelidades nos casamentos) entre os seres humanos? Para ter vida em abundância e liberdade, caminhar na luz e encontrar realmente a verdade, que liberta, temos que ter liberdade até de pensamento e “qualquer dogma tira-nos a liberdade de pensar”. Dogma é uma lei ou forma que impõe a vontade ou o conhecimento de quem sabe menos, mas manda e é orgulhoso, vaidoso e tem uma capacidade inferior de raciocínio.
- “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Jo 13,34). “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Vós sois meus amigos, se praticais o que vos mando” (Jo 15,12 e 14). “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que seu senhor faz; mas eu vos chamo de amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu vos dei a conhecer. Isto vos mando: amai-vos uns aos outros (Jo 15,15 e 17). “Falei abertamente ao mundo. Sempre ensinei na sinagoga e no Templo, onde se reúnem todos os judeus, nada falei às escondidas” (Jo 18,20). “...Porque sei de onde venho e para onde vou” (Jo 8,14b). “Disse-lhe Jesus: “Sou eu, que falo contigo” (Jo 4,26). “Diz-lhe Jesus: “Maria”. Voltando-se, ela lhe diz em hebraico: “Rabbuni”, que quer dizer “Mestre”” (Jo 20,16). “Se não credes quando vos falo das coisas da terra, como ireis crer quando vos falar das coisas do céu? (Jo 3,12). “Se, portanto, eu, o Mestre e o Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais” (Jo 13,14 e 15).
Jesus não nos impôs nenhum dogma, que tirasse a nossa liberdade..... até de pensar. Jesus nos deu o mandamento do amor e sua única ordem foi: “Isto vos mando: amai-vos uns aos outros” (Jo 15,17). Jesus sabia quem ele era, de onde tinha vindo, para onde iria e “se revelou” para duas mulheres: à samaritana e à Maria Madalena. Por que as mulheres não excluídas de um dos sacramentos da Igreja Católica, Apostólica, Romana? Jesus nos ensinou abertamente e nos chamou de amigos. Muitos, que se intitularam ou intitulam de cristãos, de discípulos de Jesus e ou de “infalíveis” parecem não conhecer e nem entender os próprios ensinamentos de Jesus, como os expostos aqui. Jesus nos ensinou o mais claro possível e isso estou tentando fazer também!
- “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu vos teria dito, pois vou preparar-vos um lugar, e quando eu me for e vos tiver preparado um lugar, virei novamente e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também” (Jo 14,2 e 3).
Se Jesus foi preparar um lugar é porque este lugar ainda não estava preparado. Jesus também sabia para onde iria (Jo 8,14b) e o que deveria fazer, assim também agem todos aqueles que conhecem realmente a verdade.
- “Ele, porém, lhes disse: “Tenho para comer um alimento que não conheceis”. Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra” (Jo 4,32 e 34). “Meu Pai trabalha até agora e eu também trabalho” (Jo 5,17).
Só quem realmente conhece e entende a verdade poderá viver e compreender os ensinamentos de Jesus descritos acima. Aquele que sabe e conhece a verdade não precisa ter fé, pois ele construiu a sua casa sobre a rocha, tem o conhecimento e a sabedoria em si mesmo, sabe quem realmente é e o que tem que fazer.
- “Se Deus fosse vosso pai, vós me amaríeis, porque saí de Deus e dele venho. Vós sois do diabo, vosso pai, e quereis realizar os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,42a e 44). “Por isso não ouvis: porque não sois de Deus” (Jo 8,47b). “Todos os que vieram antes de mim, são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os ouviram” (Jo 10,8).
Nos trechos aqui citados Jesus conversava com judeus, fariseus (=judeus) e disse-lhes que eles eram do diabo, um homicida, mentiroso e pai da mentira (os judeus têm como Deus a Iahweh. Vide a minha 2ª carta). Todos os que vieram antes de Jesus foram ladrões e assaltantes, então não foram enviados ou intuídos pelo “Deus-Pai-Amor”. Nestes trechos vemos também uma outra referência sobre a tese defendida na segunda carta, que lhe enviei.
- “Eu e o Pai somos um. Mas se as faço, mesmo que não acrediteis em mim, crede nas obras, a fim de conhecerdes e conhecerdes sempre mais que o Pai está em mim e eu no Pai” (Jo 10,30 e 38). “Quem crê em mim, não é em mim que crê, mas em quem em enviou, e quem me vê, vê aquele que me enviou” (Jo 12,44 e 45). “Em verdade, em verdade, vos digo: quem recebe aquele que eu enviar, a mim recebe e quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (Jo 13,20). “Quem me vê, vê o Pai. Como podes dizer: “Mostra-nos o Pai?” Crede-me: eu estou no Pai e o Pai em mim. Crede-o, ao menos, por causa dessas obras. Nesse dia compreendereis que estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós” (Jo 14,9b,11 e 20). “Quem tem meus mandamentos e os observa é que me ama; e quem me ama será amado por meu Pai. Eu o amarei e me manifestarei a ele. Se alguém me ama, guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada” (Jo 14,21 e 23). “A fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós. A fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles” (Jo 17,21 e 26b). “Pai Santo, guarda-os em teu nome que me deste, para que seja um como nós” (Jo 17,11b).
Nestes trechos joaninos, para leigos, parece existir um conceito monista (= a criação é Deus) ou mesmo panteísta (= tudo é Deus), mas o que vejo aqui é a perfeita “união e sintonia dos perfeitos”. Pode-se compreender aqui também uma explicação do “Mistério da Santíssima Trindade”: Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito-Santo = um só Deus. O Pai é o primeiro criador, aquele que é Incriado. Jesus era o Filho, enquanto estava aqui entre nós, após a ressurreição, Jesus passou a ser “Espírito Santo” e hoje (depois) o Filho somos nós (e se somos éramos), os filhos de Deus vivendo em corpos de carne e osso, buscando a própria salvação. O Espírito Santo é a união de todos os “espíritos ou almas criados”, já libertos da matéria densa; isto é: que tiveram início.
Jesus e o Pai eram um, como também seremos um com Jesus e o Pai. Esta ideia da perfeita união e sintonia entre os perfeitos, ficou confusa nos ensinamentos evolutivos de Teilhard de Chardin, quando defendeu que espiritualmente tudo tende para a “unidade”. Também sou evolucionista, mas para mim cada um se evoluirá para a perfeição, continuando sendo uma perfeita individualidade e não se submergindo (sumindo-se) em uma “unidade única”. A maior prova da evolução é esta: “Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).
- “... Porque vou para o Pai. Se me amásseis, ficaríeis alegres por eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que eu” (Jo 14,12c e 28). “Saí do Pai e vim ao mundo; de novo deixo o mundo e vou para o Pai” (Jo 16,28). “Que me enviou”, essa frase é repetida 20 vezes no Evangelho Joanino. “Quem me enviou” (Jo 7,29; 8,29; 12,44 e 15,21). “... Me enviaste”, Jesus repete essa 6 vezes em João. “Aquele que enviaste” (Jo 17,3). “Que Deus enviou” (Jo 3,34). “O Pai que o enviou” (Jo 5,23). “O Pai me enviou” (Jo 5,36 e 20,21). “... Que ele enviou” (Jo5,38 e 6,29). “Quem o enviou” (Jo 7,18 e 13,16).
Nesses trechos pode-se ver claramente que Jesus foi um enviado do Pai e que o Pai é maior do que ele. O verbo “enviou” aparece 35 vezes e “enviaste” 7 vezes no Evangelho Segundo São João.
Se Jesus vai para o Pai e saiu do Pai, é porque não existe a unidade, como muitos querem (e quiseram) nos ensinar. O que veio complicar a compreensão da verdade foi o orgulho e a vaidade de muitos, que quiseram ou querem se apresentar como mais sábios do que o próprio Mestre Jesus, como também aqueles, que se intitularam de “infalíveis”, e nos impuseram “dogmas inexplicáveis e ininteligíveis”, que nos puseram até medo de “pensar para compreendermos e entendermos claramente a pura VERDADE... E isso durante vinte séculos”.
Só poderá entender tudo isso, que tento aqui expor, aqueles que conseguiram viver finitamente no infinito ou “aqueles” que conseguiram tornar possível o impossível.
Os ensinamentos contidos neste Evangelho fazem parte integral da minha vida e do meu ser. É uma fonte de energia e de água viva, que satisfaz a minha sede de conhecer mais a beleza dos ensinamentos libertadores de Jesus e que me dá coragem de ir sempre adiante e nunca esmorecer. Isso tudo só se tornou possível quando tive coragem de “pensar no já pensado” e quando descobri “quem eu realmente sou”.
Hoje sou monoteísta, defendo o dualismo, mas sou unitarista conforme a Teologia da Libertação; sou evolucionista e defendo também a “criação eterna!”, pois Deus sempre foi, é e será um criador.
Que “Deus” nos ilumine...   Rosário Américo de Resende.
    
Rosário. Paz plena.


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